Alexandre
Lindenmeyer parece ter um enorme abacaxi em cima de sua mesa para descascar.
Passados os seis primeiros meses do governo petista algumas questões se mostram
extremamente desafiadoras para a nova gestão. Para que este texto não se torne
um dossiê vou discorrer apenas sobre um assunto o qual envolve
uma série de outras questões. O transporte público.
A Viação Noiva
do Mar talvez seja o maior de todos os problemas que Alexandre tem enfrentado,
trata-se de um caso em que a prestadora de serviços não cumpre o seu papel,
deixando centenas de pessoas a espera de transporte nas paradas de ônibus. Para
se ter uma ideia melhor do que eu estou falando, vamos ao estudo de caso.
Parque Marinha, um bairro que tem aproximadamente 25 mil habitantes. Este local
não possui um centro comercial, não possui um grande supermercado, não possui
um hospital, não possui uma agência de correios, não possui lotéricas nem
caixas eletrônicos para saque, pagamento de contas entre outras coisas. Grande
parte da população moradora deste bairro constitui-se de operários, que vendem
o seu tempo e a sua força de trabalho em locais distantes, necessitando assim,
de transporte público.
Com uma
população que ultrapassa em número muitas cidades do interior gaúcho e com a
falta de uma infraestrutura para atender as necessidades de seus habitantes,
os moradores do Parque Marinha são obrigados a se deslocar até o centro
urbano de Rio Grande para efetuar um simples pagamento de fatura do cartão de
crédito.
Obviamente que a
maioria da população do bairro necessita utilizar o transporte público, e aí
começa a odisséia diária. Meu querido, esquece aquele tempo em que tu
calculavas 30 minutos pra chegar ao centro. Hoje em dia, em horários de pico, o
deslocamento bairro cidade/cidade bairro demora algo em torno de 1hora e 30
minutos.
Na segunda feira
fiquei exatamente 30 minutos esperando um maldito ônibus, que quando veio,
obviamente estava lotado, e lotou muito mais ainda no caminho. Não é difícil
identificar os problemas do transporte público na cidade de Rio Grande.
Primeiro: Só existe uma empresa
responsável pelo oferecimento do serviço, o que a torna uma instituição a cima
do bem do mal. (Na realidade são duas empresas: Noiva do Mar e Cotista, sendo que a primeira detém 90% do consórcio firmado entre elas, O Mais Rio Grande).
Segundo: O número de veículos na cidade
já ultrapassa os 100 mil, e a cidade só possui duas saídas.
Terceiro: Os gargalos.
Rótula da
Junção/Integração. Algo desta magnitude bestial não poderia se quer ter sido
esboçada em papel. E ainda vieram engenheiros de trânsito do DAER-RS para explicar a
genial obra que estava sendo erguida.
"Pelo amor dos meus filhinhos! O que é que eu vou dizer lá em casa!" Como é que um secretário
de trânsito, e uma equipe técnica foram capazes de elaborar algo deste tipo, em
que todos os ônibus são obrigados a entrar na rótula, trancando todo o fluxo de
trânsito, fazer a integração, e depois entrar na rótula novamente para seguir ao destino.
Entrada e saída
da FURG, Avenida Itália. Quem entra ou saí da Universidade Federal do Rio
Grande nos horários de pico, precisa contar com a solidariedade dos outros
motoristas. (Algo que anda em extinção no mundo moderno).
Rótula do Trevo.
O seu tamanho talvez a torne um pouco menos caótica que a da Junção, porém,
continua sendo uma tremenda bosta. Consiste no fato do Trevo ser um dos maiores
gargalos do trânsito riograndino, pois ali, tem-se o condomínio Valdemar
Duarte, o posto de passagens intermunicipais, Bar do Beto, a entrada do posto
de gasolina Maré, e o posto da Polícia Rodoviária Estadual, tudo em menos de 500
metros.
Outra coisa que
chama a atenção, é o fato da parada intermunicipal não ter sido contemplada na
integração, pois os ônibus de viagem são obrigados a parar 50 metros à frente
da integração, causando um maior afunilamento do trânsito, além de eminente
risco aos pedestres que se aventuram em cruzar a rodovia.
Por quê a Integração
Trevo não contemplou aquela velha parada de tijolos terracota? Deve ser pelo
fato de que a integração somente visava integrar os ônibus de mesma empresa!
Toda essa
explicação de trânsito deve ser levada em consideração enquanto ficamos
reclamando da demora nos horários de ônibus. Trata-se necessariamente de ofertar
mais horários, mas também, de pensar melhorias na infra-estrutura urbana da
cidade. Veja bem, cidade, não estou falando somente do centro, mas dos bairros
e vilas.
É necessário
ofertar para a população a possibilidade de realizar serviços básicos sem ter
de se deslocar até o centro. Lembro-me muito bem, quando na campanha eleitoral
de 2008, o candidato do PT Dirceu Lopes já falava em descentralização do centro
urbano. Pois agora, com toda a demanda da chegada de milhares de trabalhadores
de fora, essa questão se faz emergencial.
E como fazer?
Eis a grande questão! Pelo o que se esperava ouve o alinhamento das estrelas, agora
é necessário se repensar a cidade, para por em prática o mais rápido possível uma “reforma” urbana de Rio Grande. Os inúmeros erros cometidos nas administrações
passadas com um secretário de trânsito caricato, podem sim servir como ponto de
partida para novos estudos que visem uma maior dinamicidade no trânsito.
Por fim, me
causou espanto ver a carta do leitor no Jornal Agora do dia 17/07/2013. O
ex-secretário de trânsito da gestão branco atacando o atual prefeito, sobre a
desoneração da tarifa do transporte urbano. Na carta, Enoc diz:
“Há muito tempo defendemos a desoneração da
tarifa do transporte coletivo urbano, com a revisão de isenções, investimentos
em tecnologia (em especial com a implantação do sistema de bilhetagem
eletrônica) e principalmente a retirada dos tributos federais, estaduais e
municipais que incidem sobre a tarifa”.
Para uma gestão
que anualmente subia a passagem do transporte coletivo justificando-a, a partir
dos gastos da empresa detentora da concessão; Para uma gestão que conseguiu
transformar um investigado da CPI do transporte público em investigador; Onde
as planilhas de análise e os documentos investigados foram censurados pela
bancada de sustentação do governo, só me resta pensar que a carta do ex-secretário
de trânsito beira a insanidade. É uma afronta a memória de população
riograndina.
Mas isso, é só o que eu vejo.
Ver mais sobre CPI do transporte em Rio Grande em: