segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ciências humanas pra que, para quem?




A matéria publicada pelo portal eletrônico de notícia o Globo em 22/12/12 retrata um pouco da dura realidade enfrentada pelos profissionais da área das ciências humanas. Há alguns anos convive-se com baixíssimos investimentos nos cursos acadêmicos, bibliotecas defasadas e um inflado e desestimulado mercado de trabalho.

Evidentemente existem muitos projetos toscos que não tem relevância nenhuma dentro da sociedade, e do mundo acadêmico. Estudos que já nascem fadados ao fracasso e esquecimento, do tipo: A influência das alfaces da Renânia na dieta dos Francos. Na grande maioria das vezes só estão ali abocanhando uma pequena verba de dinheiro público, lutando pela manutenção da espécie,o que contribuiu na renda do professor que coordena a pesquisa e também subsidia os estudos dos alunos. 
Estes projetos uma vez concluídos, são apresentados em algum congresso (na grande maioria das vezes internos) e depois ficam esquecidos por anos, décadas ou até mesmo na eternidade. Seus lugares de destino normalmente são alguma prateleira velha de biblioteca, ou centro de documentação. 

Entretanto, estes projetos servem como iniciação científica, são a porta de entrada para estudantes de graduação no universo da pesquisa acadêmica. Ao invés de cortar tudo de vez, como o governo está fazendo, seria interessante que as propostas de pesquisa e custeio de estudos fossem analisadas com maior rigor. Mas, como a bola da vez é o desenvolvimento tecnológico injetam-se grandes fortunas nessa área e que se exploda esse bando de gente chata das ciências humanas.

As consequências a curto médio e longo prazo (como diz a reportagem) que estes investimentos na educação tecnológica terão dentro da sociedade, só poderão ser medidas e avaliadas exatamente por meio dos  desprestigiados cursos das humanas.  

A realidade se apresenta contraditória. Ao mesmo tempo em que o governo corta os investimentos para os estudos das humanidades, estes cursos têm um crescimento significativo no número de matrículas em virtude do Enem.

Um  amontoado número  de alunos frustrados (que não conseguiram ingressar no curso pretendido da faculdade, mas, através do Enem  conseguiram a vaga em qualquer outro curso universitário. Normalmente neste caso, as ciências humanas acabam como uma tábua de salvação) ingressam, e se formam todos os anos, aumentando  a quantidade de profissionais no mercado. Quantidade essa, que no Brasil, nunca significou e está longe de significar qualidade. 

Por outro lado, os investimentos nas áreas tecnológicas apresentam também os seus pontos fracos. Muitos cursos de graduação são extremamente difíceis de serem concluídos, como por exemplo as engenharias. O fato é: Os alunos que  conseguem obter o ingresso nesses requisitados cursos, enfrentam muitas dificuldades, em virtude do elevado grau de exigência e cobrança, levando-os a optarem pela desistência. Tá, mas o que isso significa? Significa que o governo está investindo e não está tendo o retorno desejado. 

Em outubro do ano passado tive a oportunidade de visitar o pólo universitário de Santo Antônio da Patrulha, lá se concentram cursos de engenharia química e de alimentos da Furg, assim como vários outros cursos da Ufpel, IFsul e Furg na modalidade a distância da UAB. 

O pólo é pequeno, fica localizado num prédio que pertenceu a uma escola no passado, mas ao lado, foi construído um pavilhão de dois andares no estilo dos modernos prédios da Furg. Tá, e o queco? Onde quero chegar com isso? 

Quero dizer que a percepção que tive foi completamente avessa ao o que eu imaginava por um pólo universitário. Pouquíssimos alunos, transitando pelo campus, e a sensação de que estava em uma escola em época de recuperação no final de ano. Intrigado com a situação perguntei ao guarda se era sempre assim e obtive a seguinte resposta: No início do ano isso aqui era cheio, veio um monte de gente de fora, mas aí os alunos vão vendo que os cursos são muito difíceis, vão rodando e vão desistindo, muitos tem que pagar aluguel né?

Então chegamos no ponto crucial da questão. Para que este pólo fosse montado em uma cidade a poucos quilômetros da capital gaúcha, muito dinheiro do Governo Federal precisou ser investido na construção do campus, contratação de professores e manutenção deste entre outras coisas. 

Cada aluno tem um valor imenso dentro do orçamento universitário. No IFSul Pelotas, instituição o qual estou vinculado como aluno e professor tutor, estima-se a cifra no valor de 20.000 reais ao ano.  Ou seja, cada vez que um discente desiste de um curso, este orçamento é perdido, porque não dará o retorno investido pelo governo.

Então, até que ponto a criação de pólos universitários voltados para as demandas da região é positivo, sendo que muitos alunos são de fora e ao se formarem regressarão para as suas localidades, e a outra parcela da região não consegue concluir os estudos? Por outro lado, instituições e cursos de tradição, na grande maioria das vezes têm orçamentos restritos, em virtude da política de governo em investir na área tecnológica.


No campo das humanas, hoje o que se têm é uma dura, cruel e deprimente realidade para todos que almejam uma carreira acadêmica, onde somos obrigados a estudar por mais de 20 anos, obter o doutorado e entrar na fila dos concursos públicos com editais rigorosamente elaborados/moldados para a tender o currículo do fulaninho de tal. Fazer o que se o governo quer assim?

Como diz a célebre pensadora da cidade de Rio Grande Lú Compiani: Tá ruim te muda!, Neste caso, muda de área meu filho.  





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