domingo, 10 de novembro de 2013

Lauro de Brito Vianna é uma lenda que está entre nós!



Marcelo, Maurício, Lauro Vianna, Ticiano, Felipe Lima e Deivid.

Domingo dia 03/11/2013 estava eu visitando a Feira do Livro de Pelotas. As opções de compra não eram nada atrativas, entre romances, livros infantis e biografias recorri ao que julgo sempre o mais atrativo de qualquer feira de livros, os balaios de um Sebo. 

Enquanto me distraía olhando as capas, esperava que os balaios fossem desocupados, para que eu pudesse então garimpar o livro que procurava. Sem paciência pra ficar olhando livro por livro recorri ao dono da banca:

- Tens aí Boris Fausto, História do Brasil?

- Esse eu não tenho, mas tenho outro aqui... Hélio Vianna, História do Brasil.
 

Logo pedi pra ver, o nome desse autor não me era estranho. Quando peguei o livro pra ver, tratava-se de um calhamaço de 672 páginas em ótimo estado de conservação. Em meio ao barulho da banca, não consegui entender muito bem o que o vendedor me disse, apenas captei a seguinte frase: “Esse livro era do professor...”

E para a minha surpresa, quando abri a primeira página encontrei uma assinatura como o seguinte nome: Lauro B. Vianna, 1979.  Na página seguinte, um carimbo com o nome completo, data e local. 



Obviamente fiquei emocionado e comecei a folhear o livro. As páginas continham muitas anotações a lápis, com aquela letrinha miúda cursiva, característica do grande mestre. Não hesitei, nem sequer pensei se era o livro que eu procurava ou não, saquei a grana do bolso, paguei o livreiro e antes de sair ainda perguntei: Tu tens mais algum livro deste professor? E ele me disse que não, que havia recebido alguns, mas já tinham sido vendidos. 

A emoção logo se mistura com a lembrança. Eu estava com um livro que pertenceu ao professor Lauro de Brito Vianna, o maior nome do curso de História da FURG, um verdadeiro mito, que eu tive o prazer de conhecer, ser aluno, aprender e conversar muito durante dois anos. 

Mas a emoção de ter uma lembrança do grande mestre aqui comigo, ao mesmo tempo expõe o triste destino que seus familiares deram a grande biblioteca do professor. Quem conheceu e foi aluno de Lauro Vianna, sabe o quanto ele era cuidadoso com os seus livros, fichamentos, textos e apostilas. Encontrar um livro raro que pertenceu ao professor sendo vendido, por um preço de 15 reais, em um balaio de sebo na Feira do Livro da cidade vizinha é um fato minimamente curioso. 

Tão curioso que eu passei a semana inteira pensando em escrever algo sobre esse acontecimento. Mais curioso ainda, foi o fato que os colegas Chico Cougo e Felipe Nóbrega republicaram e escreveram textos sobre o professor Lauro a partir de um comentário interessantíssimo feito pelo leitor Sylvio de Alencar. 

Sabe aquelas histórias que a vida vai cruzando e tu ficas tentando entender como? É mais ou menos assim. Em agosto do ano passado, Sylvio de Alencar escreveu um comentário no meu blog, justamente no texto que eu havia escrito em homenagemao professor Lauro. Dizia Sylvio, que bateu uma vontade de procurar por um amigo de escola e digitou o nome no Google e encontrou três textos de três blogleiros falando sobre o professor Lauro. 

O comentário feito nos três textos é praticamente o mesmo, mas trás muitos detalhes da infância vivida pelos amigos em um colégio interno de Campinas, mostrando já, claramente a inclinação e a vocação para contar, criar e narrar histórias do professor Lauro de Brito Vianna.

Fico muito feliz que estejamos nós aqui, neste domingo de chuva em Rio Grande, relembrando através de posts e comentários, momentos tão bons de nossas vidas, vividos nos corredores e salas de aula do pavilhão 4 e no Centro de Convivência. 


Lauro de Brito Vianna é uma lenda que está entre nós.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A semana em que facebook foi tomado por especialistas em direito





Segunda feira 16/09/2013


Na última semana houve o julgamento do mensalão. Os encaminhamentos da semana passada levaram os juízes para uma reta final o qual podem a partir de seus votos tomarem dois rumos bem distintos.


Mas o julgamento do mensalão em outros tempos passaria batido. Um esquema de corrupção assim ou de maior porte, ocorrido entre os anos de 1964 e 1985, sequer teria sido noticiado. Se ocorresse entre os anos 1990 e 1994, provavelmente haveria morte por guilhotina, ou apedrejamento em praça pública. Entre os anos de 1994 e 2000 ele não teria tanta cobertura, talvez uma pequena nota no canto direito de uma página no fim do jornal. Algo do tipo: hoje ocorre o julgamento dos políticos acusados de corrupção. 


O que a imprensa de direita mais quer no momento é ver os mensaleiros condenados, sendo algemados, colocados atrás das grades, é ver seus nomes e rostos estampando uma capa da Revista Veja. Depois disso, Arnaldo Jabor, Lazier Martins e Reinaldo Azevedo discursarão eternamente em seus espaços midiáticos propagando a moralidade dos bons costumes, do Deus, pátria, família e propriedade.  


Algum tempo atrás, na época das manifestações que tomaram as ruas do país, eu escrevi um texto (aqui no blog) onde falava que estávamos diante da possibilidade de um golpe midiático. Pois então, novamente eu retomo este pensamento, e tudo me leva a crer que isto vem sendo muito bem preparado pela grande mídia, no ano que antecede a disputa presidencial. 


O que poderia ameaçar a estabilidade do governo Dilma e a sua candidatura no que vem? Hora, justamente uma situação incontrolável de revolta e fúria da população que acordou, levantando-se contra tudo e todos, tentando de uma vez só acabar com todos os problemas sociais que se arrastam por mais de 400 anos de história. Dentro disso, não existem culpados, existe uma culpada, não existe uma herança de desigualdade social, existe um câncer chamado Bolsa Família que tira dos ricos e acomoda os pobres. Corrupção era uma palavra inexistente para qualquer político, até o ano 2000, “nunca antes na história deste país” se tinha pronunciado este termo. 


Engana-se quem hoje acredita que um golpe arquitetado por manifestantes revoltosos ou militares fortemente armados irá destituir um governo democraticamente eleito, como é o Brasil. Temos um dos sistemas eleitorais mais completos do mundo. Dentro deste universo de poder, a grande mídia ocupa o papel hegemônico no caráter de informar e formar opiniões, ditando as tendências, dizendo o que é verdade, o que é mentira, separando o bom do ruim. 

E é justamente essa grande mídia, dissolvida pelas suas diversas formas, televisão, jornal, rádio sites e revistas que prepara o terreno para mais uma possível instabilidade no governo Dilma. Com sua pressão e clamor popular, será capaz de atirar a grande massa novamente contra o governo, cobrando que a justiça seja feita aos mensaleiros, doa a quem doer ou como diria um alguém aí nas redes sociais “Haja o hajar”.

Imagem retirada do sítio: http://www.sejaditaverdade.net



Não importa se a Constituição permite o direito de pedir uma revisão do caso, um segundo julgamento, não importa se está previsto em Lei, o que é necessário é punir, prender e mostrar o quanto nós estamos evoluídos como sociedade civil.


Não defendo de maneira alguma a inocência dos mensaleiros, muito pelo o contrário, eu quero sim que todos sejam punidos de acordo a lei, “eles não me representam mais”, todavia, também não posso aceitar e acreditar que a grande imprensa faz toda essa pressão ideológica simplesmente porque ela acredita na moral dos bons costumes. 


Quinta feira 19/09/2013


Os que vemos hoje, um dia após a Votação dos Embargos Infringentes, são alguns cenários que eu começava a desenhar lá na segunda feira. 


Os reaça de plantão, os de extrema direita, o bando que se informam sobre o pedido dos embargos infringentes via comentários do Cláudio Brito e Lazier Martins, vomitam seu ódio pelo PT, acusam de compra de juízes, de ter rasgado a constituição, de ter morrido a moral do país, e de tudo acabar em pizza. 


Os militantes e alguns simpatizantes do Partido dos Trabalhadores estão acuados, os que se expõem a debater justificam o adiamento pelo fato dos embargos infringentes serem legais, ou seja, uma possibilidade que está prevista em lei, portanto existe uma justificativa. 


O adiamento do julgamento dos condenados do Mensalão para o ano que vem, ao contrário do que pensam os "especialistas em direito do facebook", os mesmos que acusam o PT de ter comprado os juízes, pode ser muito pior para o próprio partido, uma vez que, o julgamento final será dado no ano que vem, justamente o ano de eleições presidenciais. Fato este que pode ser uma grande contribuição para “destruir” a campanha dos vermelhos a reeleição.


O adiamento do julgamento do mensalão para o ano que vem, empurra para 2015 o outro mensalão que também será julgado, porém, a grande maioria da população sequer sabe que ele existe, o mensalão mineiro do PSDB. 


Na real, tá tudo muito estranho! Em todas as esferas que eu vejo o PT no governo, percebo um desgaste, um confuso, um cansaço de um partido que cresceu de mais, que transformou utopia em realidade e hoje sofre para se manter no comando vendendo a alma ao Diabo. Exatamente pelo fato de que o Brasil ainda continua sendo um país de poucos. De poucos que controlam muito do quase tudo que é produzido, inclusive a informação. E esta ainda continua sendo a melhor e mais eficaz forma de se manter a desigualdade social. 


Mas isso é só o que eu vejo. 

Aos que tiverem interesse de fazer boas leituras sobre o caso, recomendo estes textos. 



quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A liberdade de Alex



Alex é um sujeito de estatura baixa, barbas e cabelos longos. Vive em uma barraca de lona no campo alagado que cerca a rodoviária de Pelotas. Sempre com o seu tradicional boné escuro e suas roupas sujas, ele tenta descolar alguns trocados dos viajantes oferecendo em troca alguma arte esculpida em fio de bronze.

Nunca, comprei nada de Alex, nunca vi o seu potencial artístico. Não que eu o despreze como artesão, mas prefiro poupar o seu escasso arame. Sempre contribuo com o que eu posso, e em troca da arte, prefiro bater um papo com aquele sujeito instigante.

Entre vários papos rápidos que trocamos na rodoviária, hoje Alex me surpreendeu.

E aí Alex? Como tá a vida?
Pra mim tá sempre boa, ela nunca está ruim.
Eu prefiro ver sempre as coisas boas. Eu tenho saúde, sou imune, nunca fiquei doente. E tenho liberdade, é o que mais importa. Não devo nada a ninguém.
Eu vou viver muito, vou viver até os 200 anos, tipo aqueles velhinhos chineses.
Sabe por quê? Porque eu acredito nisso, já ouviu falar disso? A vida é o reflexo das coisas que tu acredita. Tipo aquele livro O Segredo, tá ligado?
E tu?
Eu vou viver pouco. 

Mas por quê? Tu acreditas nisso?


Não. Porque eu não gostaria de viver muito sem saúde.
Mas tu és doente? Tu acreditas mesmo nisso?

Fiquei sem respostas!
Alex ainda emenda a sua fala:

Os egípicios, eram uma das primeiras civilizações do mundo, construíram as pirâmides. Sabe como? Porque eles acreditavam que era possível. E as pirâmides vão durar até o fim da humanidade.

Neste momento Alex vira as costas e saí caminhando. Deixando-me a pensar nas suas sábias palavras.

Alex tem liberdade, e isso é a sua maior glória, talvez a razão principal que o levou a adotar esse estilo de vida.

Alex é livre, não deve nada a ninguém e, acredita que é imune a qualquer doença.

Qualquer pessoa em condições normais de vida ficaria doente ao dormir uma noite sequer, em uma barraca de lona no meio de um matagal úmido. Alex não. (Outro dia, me comentava que havia perdido todos os seus pertences, pois em uma noite fria desse inverno pelotense foi tentar se aquecer e a barraca pegou fogo).

Enquanto dizia que as pirâmides iriam durar para a eternidade, Alex me deixou a pensar em o quanto ele está coberto de razão, em dizer que é livre, e que transforma as coisas ruins em boas.



Enchemos os pulmões de ar e a boca de orgulho para dizer: Eu sou livre!

Livre para o que? Para fazer o que nos dá vontade? Livre para não ir trabalhar no dia em que não estamos bem? Livre para escolher o melhor emprego? Livre para comprar, consumir, se divertir? Livre de regras sociais e normas de convivência? Livres para escolher a vida que queremos levar e mudar quantas vezes for possível? Livre para postar na rede social o que quiser?

Alex não tem prenda pra pagar, horário para levantar, patrão para lhe mandar. Vive de acordo com as suas regras sociais em um mundo, que pra ele é bom.

Sim, eu invejo e tenho muita admiração das pessoas que conseguem se abster desse mundo cão e viver no melhor estilo foda-se o Capitalismo.

Que a vida dê muita saúde e imunidade para o querido e sábio Alex.

PS:
Este texto eu dedico a amiga Daniela de Bem que no dia de hoje teve a sua conta no facebook excluída em virtude de uma reportagem investigativa que ela fez.
Que a vida e as palavras de Alex nos sirvam de exemplo. 

Estamos mais que juntos amigos blogueiros. 


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Memórias de Chico



03h: 45min da madrugada de quarta para quinta feira, redação do blog O que vejo. O setorista de plantão foi até a janela do oitavo andar de nosso prédio, para dar a sua costumeira fumada, quando encontrou uma carta colocada junto às persianas. Esta carta apresentava alguns sinais evidentes de que fora entregue por algum meio não convencional.

Reproduzimos na íntegra o material. 



Olá humanos, como estão?

Primeiramente, peço para que não me confundam com um outro Chico que anda por aí querendo o meu fim.

Fiquei sabendo, por meio de alguns amigos em comum, que os vermelhos pretendem nos tirar do nosso lugar histórico e nos enviar para não sei onde, um tal de centro de reabilitação.

Olha só! Vejam só! Se não é o fim dos tempos. Nós, que estamos aqui há muito tempo, que vimos através dos buracos das telas, gerações e gerações de famílias inteiras se divertirem e se inspirarem em nosso comportamento divertido. Um jeito sutil de ser, de levar a vida, como se ela fosse uma eterna brincadeira.

E agora que existe essa proposta de acabar com o nosso lar, de findar as tardes de domingo regadas a pipocas, amendoins, bananas e baganas de cigarros? Sei que sou um velho viciado, mas fui mimado por vocês; o meu corpo não suporta mais ficar o dia inteiro pulando de galho em galho, se bem que galhos dentro desta casa... É... deixa pra lá é até melhor.

Ao longo destes anos estabelecemos muitos laços de amizade com o pessoal da praça. A galera do laguinho é meio barulhenta, festeira, mas é gente boa. Hoje a família deles está um pouco reduzida, não sei por que motivo, mas por falar em família, o pessoal aqui do lado é especialista neste assunto. Apesar de manter uma produção em escala industrial, não nos incomodam em nada, vivem na deles, cavando enormes buracos, procriando e vez por outra nos fazem uma visitinha presenteando-nos com alguma cenoura.

Mais adiante, por este mesmo lado da rua, fica o outro pessoal do lago. Vivem de boa, parecem seguir o ritmo da vida de muitos senhores e senhoras, que saem logo cedo de suas casas para apanhar sol ou jogar dama pelos bancos da praça. Esses dias, conversando com Solange, a síndica do condomínio do Lago da Beneficência, ela me reclamava de um descontentamento com relação ao cardápio. Dizia ela: “Chega! Não aguentamos mais comer pipocas e ser enganadas por cusparadas! Além disso, vez por outra, algum humano abrevia o caminho do banheiro e resolve urinar em nossos cascos.”

Mas depois dessa conversa fiquei a pensar no que a Solange disse, eles estão há muito mais tempo do que eu por aqui. Vivem uma vida pacata, acho que ela está é reclamando de barriga cheia!

Por falar em vida pacata, o vizinho aqui da frente talvez seja o maior exemplo disso. Desde que a sua esposa se foi, ele não falou mais com ninguém, vive em completo estado de isolamento, volta e meia, dá uns gritos desesperados e novamente se refugia em sua solidão. Nem mesmo os atentos olhares de crianças, flashs de máquinas fotográficas e pipocas, são capazes de trazê-lo de volta, de relembrar, nem que por um instante, o seu tempo de atração secundária do minizoo. Digo secundária, porque nunca nenhuma espécie esteve acima de nós. (risos).

Ele se tornou rabugento demais. Um sujeito praticamente insuportável que reclama de frio, de calor, da falta de alimentos, da falta de higiene em sua casa e até do tamanho de sua humilde residência. Veja só que sujeito chato! Pobre Augustos, eu tenho pena dele (como sou irônico).

Saudades de Gabriela, aquela anta era capaz de amenizar qualquer situação. Quando havia algum tipo de desconforto aqui na praça, nós repassávamos para ela e, prontamente, era resolvido. Era uma espécie rara, daquelas que você podia contar para toda e qualquer hora. Tinha livre acesso a todos os setores de nossa sociedade, sua diplomacia era capaz de fazer qualquer estudante do Instituto Rio Branco se sentir envergonhado.

Causa-me espanto saber que muitos de vocês não nos querem mais, que passou o nosso tempo. Mas vejam bem, se não são justamente vocês que nos procuravam para observar o nosso comportamento e o nosso jeito de ser.

Eu fiquei sabendo que alguns humanos até buscam viver como nós, enjaulados, recebendo comida, bebida e cigarros por meio das grades, tendo horários para o banho de sol.

Também fiquei sabendo que vocês até criaram um programa de televisão, que é um sucesso de audiência, onde a grande atração é enjaular humanos dentro de uma casa e deixar aflorar os seus instintos mais selvagens. Confesso que quando soube disso fiquei empolgado, feliz, emocionado e não pude conter o meu pranto.

Afinal de contas, somos nós mais uma vez ensinando que a vida humana nada mais é que um imenso zoológico com rígidas regras de convívio social e que, bem lá no fundo, todos vocês gostariam de ser um pouco mais livres. 


E agora, quem me levará cigarros na clínica de reabilitação?!

Ass: Chico, o símio fumante da Praça Tamandaré.