segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ao mestre com Carinho.

Já existe alguma frase que diz algo do tipo, algumas pessoas simplesmente passam por nós, outras ao passar deixam um pouco de si. Pois foi neste domingo dia 28/08/2011 que se extinguiu uma espécie rara hoje em dia. Um professor das antigas, daqueles que lia apostila em sala de aula, daqueles que conseguia tornar pesadas tardes de aula de só uma disciplina, em atrativas histórias pessoais.
 Lauro de Brito Vianna, veio de longe, dizia ter vindo da Mooca, bairro operário paulista, ter sido criado em meio a imigrantes de todas as nacionalidades possíveis, e por isso era poliglota. Segundo ele fez de tudo na vida, vindo de família de classe média, desde cedo teve que trabalhar para garantir o sustento da família, porque seu pai depois de problemas de saúde havia ficado impossibilitado de trabalhar. Aí começa a saga de Lauro. De taxista, militar, à professor de História nos mais inusitados lugares que você pode imaginar.
Em sua trajetória de vida teve a oportunidade de conviver com pessoas famosas como o príncipe Charles, quando na época Lauro era militar, e foi deslocado para fazer a segurança de uma visita do Príncipe ao Brasil. Juntamente com outros ilustres personagens, Lauro ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, o PT, e era amigo pessoal de Luiz Inácio (o Lula), deu aula para Rubens Barrichelo, entre outras pessoas conhecidas e esteve envolvido em uma imensa lista de histórias inusitadas que ele fazia questão de contar repetidas vezes.
Lauro Vianna terminou seus estudos de doutorado na Sorbonne Paris, e lá teve a oportunidade de conviver com os mais famosos historiadores. O professor tinha orgulho, e não podia ser diferente, de contar suas historietas vividas em meio do mais distinto celeiro da História. Foi lá também que ele conheceu o herdeiro da fábrica automotiva da Peugeot, o qual se tornou amigo pessoal, quem foi aluno vai lembrar da história do “Bruno”. 
Falar desse professor, é lembrar-se de coisas boas, é lembrar de sua alegria, é lembrar de suas piadas, é lembrar dos fichamentos manuscritos, é lembrar das provas de consulta em grupo, é lembrar do seu jeito sereno e manso e de sua tradicional boina. Em meio a um curso repleto de políticas e disputas pessoais, Lauro conseguia ser unanimidade, pois não se envolvia com essa parte suja do curso. Em épocas de Lattes, competições por números de publicações e orientandos, o professor Lauro estava preocupado somente e dar a sua aula. 
Professor Lauro Vianna ao Centro
Confraternização dos formandos 2008 História Furg
O que fica disso tudo? Ficam as lembranças, e o orgulho de ter sido aluno desse monstro sagrado chamado Lauro de Brito Vianna, uma pessoa que amava a história, dava a sua aula com prazer, por isso espécie rara. O curso de História da Furg perde o seu maior professor, o curso de História não será mais o mesmo sem a presença deste homem, sabe por quê? Porque Lauro era a própria História encarnada.

4 comentários:

  1. Caro Ticiano.

    Nesta madrugada de segunda, me veio a vontade de procurar um amigo de escola, o Lauro.
    Estudamos juntos no Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, nos anos 60, internos.
    Ele já era divertido, legal.

    Mas, o que me impressiona era a tendência que ele já tinha com relação a História.
    Veja o que ele fazia: comprava um monte de borrachas, aquelas brancas quadradinhas... Pintava cada uma com brasões (desenhos de cores diferentes), pregava uma tachinha em cada uma pra servir de escudo, e pronto: estava formado um exército. Brincadeira de criança? Não. Aparte isso inventava histórias de continentes e países, e escrevia em cadernos as lutas que cada país, ou reino, travavam entre elas. Tuuudo marcadinho, com datas e resultados das batalhas. Um primor. E ele tinha uns 12 anos... E os padres, sempre pegando no pé dele.
    Fico triste por não poder me encontrar com ele, não por aqui, não nesta dimensão.

    É isso, um grande abraço.

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    1. Olá Syvio de Alencar, primeiramente desculpa por demorar tanto tempo para responder sua mensagem, a ideia desse blog tinha sido abandonada.
      Mas com relação ao professor, Lauro, foi com certeza uma das pessoas mais fascinates que eu conheci, realmente um gênio que nos faz muita falta. Mas tenho certeza que lá de cima ele esta atento aos amigos aqui da terra.
      Um abraço e feliz ano novo.

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    2. Volto aqui pois estive lendo tudo o que foi falado sobre ele em diversos blogs.
      Percebi que dei um vacilo em escrever a mesma coisa em blogs que eram seus, não percebi, achei que eram de blogueiros diferentes.
      Não creio que escrever sobre nossas recordações seja 'arrancando-as' de dentro de nós, como disse um autor que vc postou em um de seus blogs; acho que pode ser um ato de extrema doçura, que é o que você cometeu aqui, e em seus outros blogs.
      Você, um cara muy bacanudo! Fico por aqui, desejando-lhe um ótimo ano, broder!
      Abraço-tchê!
      Abração.

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  2. Bom dia, estou sete anos atrasado, mas o bom da internet é que as histórias permanecem acessíveis. Hoje arrumando minhas coisas, encontrei uma velha apostilo do Lauro e resolvi pesquisar sobre ele na internet. Não sabia que tinha falecido, mas suspeitava dado o ritmo de vida intenso que levava. Imagino que Lauro tenha morrido de tanto viver. Tive o privilégio de ser aluno dele entre 1982 e 1984 no Colégio Pré-Médico em São Paulo. Um dos mais inusitados e talentosos professores que tive na vida. Quanto às histórias, seria preciso muito espaço para contar. Suspeito que este post não seja lido depois de tanto tempo. Mas eternizo aqui também minha homenagem ao bom e velho mestre.

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